21.1.11

Clint Eastwood fala com os mortos

















'Outra Vida' é o novo filme de Clint Eastwood, escrito por Peter Morgan ('A Rainha'). O grande actor e realizador americano entra pela primeira vez em território sobrenatural, mas não para assinar uma qualquer história de terror. A sua intenção é usar os mortos para falar dos sentimentos dos vivos.

O pequeno Haley Joel Osment via pessoas mortas em O Sexto Sentido, de M. Night Shyamalan, e via-as com toda a nitidez, ali mesmo ao lado dos vivos. Em Outra Vida, o novo filme de Clint Eastwood (estreia-se hoje), Matt Damon interpreta um homem que tem o dom de divisar o além e comunicar com os mortos, mas um e os outros nunca aparecem bem definidos, já que Eastwood prefere sempre filmá-los como se estivéssemos a ver um canal de televisão impossível de sintonizar com clareza.

Geralmente, quando se mete a falar de mortos e daquilo que poderá estar para lá deste mundo material e perecível, o cinema fá-lo com a intenção de inspirar terror, de visualizar paisagens fantásticas ou de transmitir mensagens religiosas ou espirituais.

Nada disso sucede em Outra Vida, a primeira viagem de Clint Eastwood por território sobrenatural, onde o realizador e o seu argumentista, o inglês Peter Morgan (A Rainha, Frost/Nixon), ambos homens muito mais habituados a lidar com personagens de carne e osso, sejam elas ficcionais ou tiradas à realidade, do que com entidades ectoplásmicas, querem é contar histórias de vivos, usando o mundo dos mortos como um cabide para as pendurar e exibir.

Até mesmo os efeitos especiais, normalmente utilizados no cinema fantástico para dar forma ao invisível ou ao indizível, são manipulados pelo realizador para recriar um fenómeno natural bem concreto: o tsunami do Natal de 2004 no Índico, infinitamente mais aterrorizador do que qualquer fantasma.

O filme conta três histórias paralelas. A de uma jornalista-vedeta da televisão francesa (Cécile de France), que é apanhada pelo tsunami, tem uma experiência de quase-morte em que vê aquilo que julga ser o além, e começa a investigar sobre o tema; a do vidente personificado por Damon, que chama "maldição" ao seu dom de comunicar com o outro mundo e os seus informes habitantes, e recusa voltar a usá-lo para ganhar dinheiro e fama, ante o desespero do irmão; e a de Marcus, um garoto londrino (Frankie McLaren) cujo gémeo é atropelado por uma carrinha.

Fonte: Diário de Notícias

Claro que não reproduzi esta notícia para fazer publicidade a um filme que não faço a mínima intenção de ver. Faço-o para percebermos como cresce cada vez mais este ímpeto de explorar caminhos desde sempre envoltos num mistério insondável que, ao que parece, se transforma agora em algo do domínio comum - já não há estranheza nem especial fascínio pelo assunto, como se estes filmes retratassem o comum dia a dia das pessoas. E, repare bem, são cada vez mais as pessoas tidas como credíveis que se dedicam a isto...

Não tenho dúvidas em afirmar que esta é, tal e qual previsto há mais de 100 anos, uma estratégia muito bem elaborada que pretende levar as pessoas a confiar em rituais que até há bem pouco as assustavam.

Contudo, creio que muito mais veremos nos próximos tempos, que não estão assim tão longe quanto podemos pensar...

Blog O Tempo Final

Nenhum comentário: